O Escritor e a Palavra

09/02/2017

” Deus- Ninguém “

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Escuto o ruído  24/04/2009

DEUS-NINGUÉM

O CASARÃO Vagamente vou deixando estas malnoitadas linhas escapar da teia do meu ser, apenas a sina da vontade vai olhando e desfazendo os nós, minha mãe do fundo de sua solidão, enxugava sua tristeza e falava:- Você é diferente de todos, está se abandonando, tudo tem seu limite, até mesmo esta mania de escrever e esparramar seus gestos contidos, puxou a cegueira de seu pai, deslizando como uma lagartixa silenciosa pelo bolor das paredes.Escrevo para o Deus-Ninguém ele conhece os recursos da minha alma, os segredos mais íntimos, a dores reveladas no discurso de meu tempo.Pai cego num canto da sala, aproximo com passos medrosos:- O que é ser de cegueira?- Filho, é ter uma eterna sombra no fundo dos olhos e sentir que se esparrama pela alma toda.Mãe olha a pena da pena e revolteia os perigos das chegadas, traça para o pai um mapa das caminhadas, estipula a geometria fria das apalpadelas pelas paredes do Casarão, até atingir o canto do quarto, onde perto de seu radinho de pilhas haverá de ouvir noticias de um mundo distante forjados entre crimes e solidão, ficará ali o dia todo preso e amordaçado de palavras.“Deus-Ninguém”Minha fala de sentir interior, escrever cartas que nunca chegarão, é que a dor de almas mortas, vai se esticando todo, até perder-se numa funda linha do horizonte, este Deus-Ninguém é de dentro, as vezes cegos como os olhos de meu pai, minha vontade é de jogar o antigo e o presente dentro deste Casarão para poder viver alguns breves momentos de esperança, não precisar de soluções, a fraqueza parece derrubar a todos aqui, as pernas travadas da minha irmã frágil e se arrastando pelo chão, penso nos porões jogados para dentro de cada um de nós…“Deus-Ninguém, as poucas vezes que conversei com pai, senti que habitávamos o mesmo mundo, o meu transparente de luzes não entendidas, e o dele de uma eterna treva construídas em toda sua vida, ambos nos alimentando de uma sombra vadia e desgraçadamente covarde.A minha irmã rastejava, um olhar de brilho acostumado e medrosos, boneca de pano nos braços e uma dor de verter lagrimas e de ficar grudado nos limites da memória.- Porque não se levanta minha irmã, porque não fica de pé, e aprenda o caminhar?- Apenas desaprendi do andar, sinto medo da distância que vai do limite da cabeça até os meus pés, é uma tontura de invasões até o chão, sinto que tudo que resta, será cair… cair… cair…A mãe olha, resmunga, aproxima, traça voltas com a faca na batata e tem o todo dela, joga no tacho em que a cebola e o cheiro verde darão a precisão do gosto.- Filho, é preciso que vá encontrar uma vida lá fora, aqui tudo tem um gosto de sofrer, esse seu Deus-Ninguém é possivelmente obsessivo de sua criação, não admite compartimento de luzes neste casarão.As emoções humanas não passam de um jogo, em que peças são deslocadas obedecendo uma regra.As vezes acordo com a sensação que Deus-Ninguém está longe de entender que toda esta costura e cerzidas esperanças, o encantamento fica apenas por conta da palavra, meu mundo é o fora, a casca do ovo escondendo a gema… a semente….O avô devorando a bíblia e a avó desesperada, comida no fogo, feijão cambuquira, arroz, carne seca e a mãe gritando – “Porque tanto desperdício, a maldição de Deus é na terra, não nos frutos entravados dentro da terra” Falam de terra, e penso que todo quintal é terra de ninguém, as arvores são regadas com as águas dos olhos e seus frutos são amargos de existência pelo velado e o desvelado…o avô lendo trechos de Isaias e a voz vai se dissolvendo na neblina de cada um, fica um soluço de resignadas palavras desaparecidas na asperagem do tempo…árvore de ressecados frutos…ressecadas frutas…- ‘Deus-Ninguém, também nunca recebi o gosto do doce, apenas o salgado, também exaurido de significado…não sei de qual gosto retirar o acreditado.Mais que a dor no peito, o que me invade é o medo, o casarão me esperando trágico de destruição e mantendo refém, todas aquelas pessoas que aprendi a amar e entender suas trevas e solidões.Tenho vontade de vê-las e sentir que não haverá partidas e que seus rostos se abrirão num sorriso diante da minha dor, acabará o mundo das divisões, suas almas são puras por serem tecidas em trevas próprias.Tem momentos que sinto que estamos numa cela, voltando das esperanças e esticando as palavras para dentro de pesadelos, perdemos o dom de sonhar, olhos que se perdem dentro do dentro.O Casarão surgiu depois da casa tomada, a mãe vestiu-se de preto e falava que dificilmente alguma estrela viria para seu vestido, o avô afirmava dando um tapa na bíblia que “na casa de meu pai, há muitas moradas“ ficava imaginando que se estas moradas existiam, elas deveriam estar cercadas de imensos e altos muros, para morar nelas deveríamos ter algo de especial, o vinho, o sangue, a ceia leve de imensas paisagens e um pão de repartidas formas, não eram coisas para nós…certamente para os poucos escolhidos, aqueles mansos de almas, os cordeiros do senhor.A casa fora tomada, tristeza de finalizar um mundo e ter que caminhar para o desconhecido, extrair do medo o silencio de percorrer, éramos uma tropa de derrotados, que vínhamos pela estrada, olhos de esperanças perdidas, até o momento que avistamos o Casarão, abandonado e cercados de árvores que pareciam não ter vida, Casarão de moitas entre os ladrilhos e manchas de bolor verde , grudadas nas velhas paredes, pedaços de luz, atravessavam o buraco dos telhados, um cheiro de mijo e portas roubadas em que restaram apenas buracos…perder-se no tempo é desaprender a palavra, ter o tombar das idéias, se tudo é trazido do oco, é porque a febre da memória queima as veias de meu corpo, atraso o tempo da linguagem, pulo o cerco das correções, sinto o limite angustiado do Casarão, em algumas noites sinto os passos invisíveis, um arrastar de correntes, o longo chorar medroso e enlouquecido de minha irmã, suspiros e gemidos percorrendo as horas, segundos, minutos, imaginando que todas as jornadas são jogadas para dentro da noite, tudo para ficarmos órfãos de uma luz mentirosa, as palavras chegam acompanhadas de um exército de mortos.Alguma coisa não estava bem comigo, suportei muito tempo a sensação de febre no corpo, fraqueza, até no momento que senti a primeira golfada de sangue, olhei assustado, tive medo de sentir mais medo, minha camisa manchada de medo, todos olharam, todos sentiram que um silencio enorme tomaria os cômodos do Casarão, lagrimas fugiram do dentro dos olhos,cruzando meu rosto coberto de matas fechadas e flores apodrecidas.Mãe olha tio perto do buraco da porta e fala:- Somente você pode levar Lucas para ser atendido, não temos dinheiro, ele não pesa quase nada, pode por no carrinho de mão, talvez também conseguir carona…deixa lá e volta, precisamos de você na plantação, dependemos da colheita do inhame para talvez podermos sonhar em melhorias…As paredes brancas, enfermeiras de brancos e olhares brancos de curiosidadeTubos brancos enfiados no nariz e nos magros braçosMangueiras conduzindo um vermelho sangue estranho para dentro de meu corpo, sensação de sono e um cansado cheiro de remédio,Expulso do Casarão pela doença, só no mundo, só de apenas só, invadido de memórias, as imagens refazendo caminhadas para dentro, mapas de fundos desencontros.Em que região o meu Deus-Ninguém se refugiou para não mais estender suas leprosas mãos?O médico tem o olhar preocupado, avança diagnóstico sobre a doença, atrás do bigode tudo é mistério, apalpa o fundo de meu peito, impossível ver a dor escondida dentro do meu medo, impossível encontrar minha alma escondida nesta angustia.Exilado para um templo de enfermidade e macas fugindo com pacientes pelos corredores do hospital…O médico fala e olha para a enfermeira:- Ele tem o corpo, os pulmões, tudo tomado pela doença, está no ultimo estágio,Vem a lembrança da casa tomada, agora meu corpo também tomado, acredito que nunca pertencemos a nada…sempre um resto de mentiras a viver por nós, minha alma sempre vegetou por espaços sem luz, ainda poderei estar na via crucis de meu corpo, percorrer alguns abismos até ter a esperança de encontrar o Casarão.A enfermeira ouve o médico:- Tem que ser removido…que pena, está no ultimo estágio…a viagem é longa, pode não resistir…aqui também não resistiria…morte na certa!Estou pronto para todas viagens possíveis, mesmo sem levar comigo a esperança, peço ao motorista e enfermeiro que me levem ao Casarão, talvez seja a ultima visita, quero as despedidas, abraçar meu pai e beijar seus olhos ausentes de luz, falar para mãe que brevemente uma estrela virá brilhar no negro de seu vestido, beijar minha irmã e sua bonequinha de palha e falar que são lindas como a luz descendo nos buracos do telhado, falar com tio breves palavras e pegar a bíblia do avô e dizer , que naquele mundo que vive pode sempre haver a ressurreição, acariciar os ralos cabelos brancos da avó, todos que sempre estiveram vivos e transitando suas mortes para dentro de mim…nunca esperei muito desta difícil alegria de viver…tudo sempre foi muito amargo…lapide de todos os nomes que invadiram o álbum de minha existência, tudo ficará num único abraço, único beijo, abraço que nunca dei, fui contido pela mão do medo…nunca recebi um carinho sequer e hoje sinto que isto poderia ter mudado tudo…Enfermeiro e motorista recebem ordens trazida por uma voz severa e preocupada, estou numa ambulância, pelas janelas vão desfilando algumas arvores de verde distante, outras sombrias como o destino que me espera,uma sensação de desespero viaja pela ambulância, sinto a vida como um peso, algo morto, esta inútil ajuda do Deus-Ninguém, queria poder sonhar…mas também é tão difícil.Quero entrar no casarão com meus próprios pés, encontrar cada um dentro de seu mundo, palpável em sua pele de tristeza, retirar o ultimo de minha força, ninguém, nem nada impedira de passar uma ultima vez pela carunchada porta de madeira e encontra o triste movimento de minha irmã, o olhar da mãe impossibilitada de atingir minha alma, delicada e fria como as flores que ficavam no vaso ate o momento do ressecado, entrarei com a sede do encontro, abraçarei a todos…todos que retiramos do poço a mesma água e dividimos a mesma sede. O enfermeiro e o motorista, acompanhavam minha entrada, todos na mesa, o pão sendo dividido, o prato de sopa de inhame, a oração de agradecimento, os olhares me descobrem, espectros avancem sobre mim, abraçam, choram e ocultam um sorriso interior, beijo de ser primeiro beijo, despejo um adeus em cada olhar, olhos de limbo verde, vejo as marcas do pesar em cada olhar, chego perto do pai, passo a mão em seus longos cabelos e imagino se não existe uma região dentro dele que o torna impossível de sonhar, abraço minha irmã com sua boneca de pano a retalhos de tristeza, vem para a porta, todos me acompanham, o tio em seu silêncio, avanço quase desmaiando, a porta da ambulância é aberta, penso no adeus, mas ela fica grudada na minha dor, apenas olho, sinto que serão eternamente devorados pelo Casarão, e que a uma maneira de fugir, será como a minha.Deus-Ninguém, não sei para onde vou, sei que nunca chegarei a mim mesmo, tudo perdi porque nada pude ter, o sentido da esperança foi inundado, agora me resta…esta viajem sem volta.Deus-Ninguém, ore pelo ninguém que em mim restou, encha o Casarão com o ruído dos pássaros e dos animais em busca de suas presas, invada o Casarão e tente despertar o sono da alegria, nas únicas pessoas que acabei amando nesta vida…

Tenho tentado jogar as verdades para dentro desta noite forjada de esquecimentos, rebusco uma memória de palavras já sem significados; as palavras começam a morrer quando sente a escuridão avançar e ficar trancada na garganta, é isolar-se dentro da vontade de dizer não as coisas, desacreditar-se e o não aceitar de que ÊLE não possa estar presente ou estar inconsciente a estes soturnos e microscópicos vírus flutuando com nadadeiras invisíveis para dentro de meus pulmões, não ter a eficácia de remédios , nem as mãos armadas para uma oração, dor sólida, física e espiritual pois não consegue banhar o isolamento desta alma sangrando como meus pulmões, ainda sobram rostos transfigurados, ansiosos da queda já pronunciada, espelhos de imagens enegrecidas e velhas raízes de arvores estampadas em torno dos olhos e invasões lentas e silenciosas de uma memória jogando-se para dentro do Casarão, vou sentindo o grudado da memória e que muitas noites me encontrarão aqui com o corpo envidraçado de doentias transparências… difícil não entender em que escarpas e sob o peso de pedras minha vida vai sendo construída , diante de meus olhos soturnos uma forma surge de nunca entender a partir de que sutilezas e emanações meus quinze anos foram sendo lentamente construídos, frente a arvores escurecidas e montanhas umedecidas de desenganos, um estremecer de desencontros , ironias e sem nenhuma saída , apenas imagino que estou transformado num ser jovem que desconhece a si próprio e busca entender o salitre das lágrimas, os pensamentos cheio de saudades e doces do coração e o amargor estampada na face de médicos e enfermeiros…É difícil saber sempre como arrastar sobre a casca dura e seca de uma arvore velha e gasta de esperanças, vou então ensaiando palavras tímidas, escondidas e enraivecidas, pulando verdades e angustias desesperadas, tentando me equilibrar sobre tênues linhas, esfolando meus ouvidos com sons ásperos de uma batida descompassada de meu coração, ritmo ora lento , ora apressado de receber mensagens, olhares ou mesmo uma pagina de um livro ou de uma poesia, minha única fuga ainda possível em vazias noites e dias repetidos…penso nas crônicas desta noite esvaziada de sentido , um buscar intenso de esperanças, o Casarão e seu clima negro, doloroso e o silencio beijando minha alma, a dureza das pedras que escorregam para dentro de meus pulmões com peso denso de todos os cotidianos que tenho de afugentar com inúteis orações para este invisível Deus-Ninguém, as vezes imagino seu susto de ter o criado fugido dos domínios, o mundo se retorceu depois da criação e criou suas próprias orbitas e planetas viajaram pelo infinito indiferentes a seus designios, tento instalar a calma diante da dor, esquecer que posso ser agitado por desejos noturnos, poluções e que eternamente estou condenado a viver uma solidão que não é só minha: – Talvez do mundo também !

DEUS-NINGUEM

¨quero as palavras num ponto escuro do infinito, apenas assim entenderei esta minha dolorosa caminhada “

“ O Dia é sempre o intervalo claro da mesma Noite “

“ Amor é saúde do corpo e o inferno intimo da Alma”

“ Corpo semente – dolorosa germinação , até ser o estado de uma fruta esvaída de néctar, sabor e cheiro.Sêco como um galho de arvore se sustentando no vazio “

Como gostaria de me afundar dentro desta noite em que me encontro, olhos vadios de encontrar vazios, apenas lembranças dopando os pensamentos, afastado de mim por séculos de desolação, saber que não encontro amigos e que minha fala, meu dialogo é apenas um monologo de não entender o motivo de sentir trevas, como antigas teias capaz de aprisionar para dentro desta vazia teia de algoz desconhecido e esta maldita e cansativa luz que pressinto pronta a explodir porque não sinto VOCÊ junto dela, DEUS-_NINGUEM estou isento de compreensões, o cérebro costurado por mãos invisíveis e meu corpo preso a um cordão umbilical de amargas e doloridas lembranças ! Quantas eclipses surgidas nestes desencontros, tormentas e pesadelos, os pensamentos criando invertidas estrelas sem brilhos…
– Vai ficar bom logo !
– Deus tem o poder de curar !
Frases apenas frases, sei que perdi o caminho da saída, é por onde todos fogem, até o equilíbrio de uma família me foi roubado e ainda me falam deste DEUS que aprendi a desconhecer

DEUS-NINGUEM , vejo que ser livre é estar assim dolorosamente fora deste seu mundo criado com tantas prisões interiores, são celas que não permitem voar…voar !

Sei vagamente que poderei buscar em tudo, na agonia, a face voltada de um espelho de imagens esquecidas, um exercício de dor e solidão se retorcendo para dentro, evidências de um mundo construído pelo avesso, escombros, a fria dor que me acompanha, a tristeza de não encontrar palavras de claridades e gavetas que abro ansiosamente a cada minuto, trazendo papéis que sinto inúteis, mas que representa a transitoriedade de minha fuga para dentro destes pesadelos que se anunciam a cada olhar miserável que lanço sobre mim,
Salvação – maldição
Um relembrar de um Casarão carcomido de intensas sombras alimentando-se de um tempo desencontrado,
Ser como esta alma emprestada das trevas, percorrendo com chinelos gastos o mesmo e sempre corredor deste hospital…no fundo do corredor uma cruz e nele pregado o Crucificado…é onde todos param
E fingem suas preces acreditando no milagre…acreditando na luz, acariciam o espírito ausente de memória e de significado, afogando sua dor em chinelos que insistem em percorrer estes escuros corredores…

Alucinadamente vou transformando palavras em limbo, revolvendo o momento exato da despedida, silêncio é angustia e galhos secos de plantas adornam um jardim escuro e secreto, vou dispersando a alma por muitos caminhos, exilando-me pela escrita, afundado em charcos de lama, sei que a fraqueza me invade e o gosto de sangue é sempre o retorno, a volta por espirais de negro temor, diante de meus trêmulos dedos a caneta pesa e a noite que me invade com gemidos tem o cheiro de animais apodrecidos , tão próximo como a febre, esta agitação, o gesto da mão sempre encontrando o nada, preciso do arcabouço da solidão, desconhecer regras e entender o peso deste silêncio, resultando como um gesto único e ultimo de um suicida abafando -se num ultimo gesto de esperança e desafio …

O menino em mim adormecido, jogado para dentro de pesadelos, sem consciência para sonhar, um triste pedaço do jogo refeito , sobre lençol branco e macas que rangem,
sondas de infinitos e transparentes tubos, enfiados para dentro de minhas veias, as pessoas estão fora de meu estado de solidão e abandono, roupas brancas que se afastam para dentro de minha alma,com injeções e liquido espalhado para dentro de um copo
de liquido leitoso e gosto acre, que percorrerá este corpo em estado de

angustia e solidão…

Deus-Ninguém

…dias já passados, sem alegria, dor no peito geridos na raiz dos
desencontros. Vejo os segundos que correm sobre o relógio na parede, sei que sempre uma repetida noite viajará para meu destino,como se a escuridão e a luz tivessem de participar de um mesmo destino…
não tenho nenhuma noticia de minha casa, sei da distancia e da morna tristeza que invade o casarão, cada um vivendo seu calvário,um pedaço da própria morte, rostos que se tornaram mascaras e não conseguem sorrir…estou tentando dar um sentido nas desarticuladas palavras embrulhadas em bulas e com cheiro de clorofórmio
uma enfermeira larga uma revista, folheio paginas e paginas,vejo um verde de floresta, pessoas bem vestidas de saúde, algumas mortes, casas destruídas, canhões, guerras , mulheres sorridentes , anúncios e mais anúncios…esqueço meus olhos na passagem de um tempo que nunca aprendi a conhecer, o destino de cada um é definido, somos todos sós e palavreamos a vida com a exatidão do silêncio, o útero da solidão parindo esperança, sentindo a invasão de ver matos ciprestes e galhos estendidos como forcas nos varais deste hospital…vou deixando as linhas de palavras irem percorrendo o rosto envelhecido deste caderno, são rugas de sentir os gestos cansados no pouco tempo já vivido
tempo de pensar
cansado do sentir
as escritas vão nascendo lentas, cansadas como este corpo jogado sobre esta maca, vou costurando a lembrança do casarão e suas sombras que estão pisando um chão abandonado e de veias rasgadas dentro do destino de cada um, lembranças com gosto de morte…ervas daninhas vicejam em chão esburacado, minhas pessoas amadas olham por janelas um infinito que não é dado conhecer.
Deus-Ninguem – Por que esta solidão ?
Porque este jeito tão solitário de dizer as coisas, olhar estas paredes sem respostas, vegetar como silencio sem forma, sentir olhos cansados e oprimidos se derretendo sobre minha doença, levantar o memorial de meus dias inválidos, perceber que neblinas vão se afundando para dentro de meus pulmões, que toda claridade é a espera da noite por vir, ter no escrito o desespero e sentir que minha resistência é finda, desprovida de sentido…o relógio marca hora de um tempo que é presente, um hoje solidificado de ausências, o desfalecimento quando os olhos se fecham diante da escuridão…penso em escalar este espaço de palavras ainda não escritas, perfurar pedras da construção, reter dentro de meu silencio a lama do esquecimento…
Sou frágil e quebradiço como cristais, isolado num quarto frio e aromatizado de essências vegetais…acordo no meio da noite com fantasmas caminhando apressados dentro do quarto…
Um outro dia acordei sentindo uma mão deslizando pelo ventre e tocando meu sexo, mãos aranhas de uma gorda enfermeira,velha, no olhar trazia uma procissão de mortos, rugas, boca de baton vermelho e um risco de lápis nos olhos…
_ por favor…deixa…deixa…abandone-me…
lagrimas nos olhos, falou da viuvez, do filho morto num tiroteio e apalpava…apalpava…dizia – você já é homem…homem …apalpava meu silencio…minha boca trancada, muda …mexia…mexia
e
tudo que restou foram manchas grudadas e molhadas no lençol , a sensação dolorosa de um prazer feito entre mortos, cansaço arrancado do medo e da vergonha por não entender a dor da mulher,de seu desconhecido mundo interior, da idade já sem conquistas, a beleza destruída pelo tempo e pela gordura nas faces brancas…morta e arrancando e catando pedaços de prazer de seus doentes…
…meu sexo era um peso quase morto, jogado para fora de meu corpo,sozinho e sem sentido…um pedaço de achar êxtase na eclipse de uma noite desesperada de desencontros…
mais alguns dias de dores acalmadas
levaram me para um jardim, a fachada do hospital trazia a imagem de uma prisão pronta para preparar seus mortos…fiquei numa cadeira de roda , via outros doentes como espectros se movimentando com a expressão de uma alucinada e terrível noite sem vestígios de esperança…as horas purgando sua corrida dentro do
tempo…uma imagem de uma cruz vazia de madeira envelhecida,talvez seu filho estivesse procurando seu pai, este Deus-Ninguem, para dizer que tudo é inútil…olhos que não podem ver, a chaga de sangue envelhecido dentro da memória…o vinho mal repartido, coisas desacreditadas na mesa do cotidiano…o pescador e a rede vazia de fé, tempo para falsos justos e milagres forjados
volto para o quarto
medo de sentir medo
dor escondido na força dos remédios e sais abandono, sinto que as palavras também buscam sua via-crucis , tenho tentado jogar as verdades para dentro desta noite forjada em esquecimento, rebuscando uma memória de palavras marginais, sem significado e
sem roteiro que não seja gritado pelo abandono, é uma escuridão que avança para dentro da garganta sufocando o que resta de minha alma
tentando dizer não as coisas, o ar fica pesado de desespero, e ÊLE
calado, distante de ler os cantos que minhas palavras escurecem em cartas imaginarias, preciso destas lembranças …
triste não ter um remédio para a dor incrustada na alma, ter o desapego de viver, rostos transfigurados em apagados espelhos de imagens enegrecidas, sentindo a memória sem ilusão e que muitas noites me encontrarão com o corpo envidraçado de visibilidade enferma,
difícil não entender em que escarpas e sob peso de pedras , minha vida vai sendo construída diante de meus olhos, frente a arvores escurecidas e montanhas umedecidas de desenganos, estremecer de desencantos, a ironia presente…sem saída apenas imagino que estou
transformado num ser que desconhece a si mesmo e busca entender
o salitre preso nas lagrimas, os pensamentos doces do coração buscando o casarão e um amargor estampado na face dos médicos e enfermeiros…

 

 

O Casarão surge com o transverso do tempo, emigração dos transtornos, não existe a definição do espaço físico, a passagem do tempo não se fixa nem no presente, foge com linhas próprias do passado e não tem uma projeção fixada no futuro, o espaço ocupado é interior e sem limite que não seja o rebuscado dentro das palavras, a poesia da existência não ancora em nenhuma forma de alegria e esperança, vai mar adentro, deslizando seus fragmentos sobre desesperadas ondas de uma emoção quase vazia e de total agonia jogada para dentro da alma reclusa em sua forma de solidão…

 

 

Cedo tarde ou noite ia evocando antigos mistérios, o anseio da caminhada e a estrada fincada no infinito, sacudia a poeira acumulada na roupa, olhava timidamente para o lado onde do resto de sua memória, sua mãe retirava um difícil e aguado leite para seu irmãozinho, o tio com passadas longas murmurava infortúnios e a tudo culpava, era o maldito tempo, a desintegração da dor, as mentiras voando como olhos de pássaros mortos que a avó guardava dentro de uma velha mala, misturada a cobertor  com cheiro de naftalina e baygon, seria possível  enxergar além das sombras ou não perceber com indiferença o barulho seco das folhas crispadas em desespero e um purgatório que o avô trazia em culpas e expiações ,descartava recortes e punições para os afastados da glória do senhor,pulsada para dentro de sua velha e ensebada bíblia, os códigos anestesiados como minhas veias, uma antiga e fossilizada poesia fixada nos ramos da idade de uma refeita paixão, o fogo se mantendo para dentro dos olhos e palavras que explodiam no silêncio da caminhada, todos numa marcha escorrendo para dentro da dor, esperando o momento da chegada, as fundações do destino…

 

 

Ainda me resta a possibilidade de invadir a vida com palavras, deslizar a caneta e esfolar o branco doentio das palavras, ressurgir com linhas cerzidas ao dentro, o costurado invisível com sombras horizontais, esvaziar os sulcos desta miserável caminhada, lembrar a todo momento da caída, a descida para um inferno próprio, a queda e o tempo escolhido para perfurar estes olhos esvaziados de alegria, ver surgir uma nova aurora e não poder me aproximar destas luzes que me cegam e apontam para uma terrível escravidão, um ser desnorteado e acovardado como se temesse o ressurgir de uma nova peste, com mortos invadindo o espaço escondido de meus sonhos…

 

O salão todo decorado, bexigas vermelhas, azuis e amarelas, bandeirinhas penduradas nos tetos, cadeiras de rodas se movimentando e velhas circulando com bocas descrevendo diálogos inaudiveis

falam com palavras em seus avessos , nos ouvidos a emoção é retorcida de silêncios, estabeleço então jogos a partir da memória, dos sonhos antevejo que o medo esta na raiz desta dor subjugada para dentro de meu corpo, o qual insisto  em recortar e esparramar como pequenos pedaços de coloridas ironias e irretocadas disciplinas, são espaços que fogem neste chão pisadas por densas trevas e numa anunciada revolta, percebo olhares que avançam sem carinho para dentro de meu tempo e vai riscando linhas tortas e desencontradas para  dentro de meu destino…

 

 

dias e noites de infindáveis repetições, acendo a luz deste apagado olho e me jogo para dentro de um passado morno e cansado, vou viajando por entre estrelas que imagino como paginas de livros com letras , desenhos capaz de despertar os limites vazios do mistério,

com sombras retidas e mortes anunciadas, vou sabendo da violência

e resumindo tudo para dentro destas palavras, tudo é parte de uma partida em que somos eternamente derrotados, doenças que a alma engole como comprimidos em seu dia a dia, doses maiores de finitas dores em que nada resta e na qual a esperança se curva como uma planta órfã, num jardim já seco, sei que um jardim  existia neste

exato lugar, são as demarcações, as cicatrizes sobre as terras e as

gramas ressequidas, círculos e pequenas estacas sustentando galhos secos de rosas e jasmin, folhas mortas e vasos quebrados com raízes de violetas enformigadas, devagar estiquei a mão para dentro do sol e senti que seu calor esparramava-se para dentro de frias trevas, tranquei a dor no sótão de tantas tristezas soterradas, é um momento que vejo o cinzento se render à cor e a dor caminhar por compridas estradas esburacadas, estas palavras que mantenho trancadas dentro do casarão, repartindo suas veias, seus cômodos, sua trajetória, esticadas como frágeis linhas para dentro deste angustiado e fechado universo, construído e conformado por pedras

e grossas areias,

não  não

pêndulos de algodão afundam-se e penetram pelas frestas deste silencio mal definidos em palavras

são gotas de água que a friagem transformam em pedras gelificadas,

são resinas afundando para dentro de um mundo sem espaço de luz,a sombra que se dissolve e um mundo vegetal entrelaça seus cipós,

gotas de lagrimas que lavam estes resignados suspiros noturnos, quando a mão avança para isoladas e mortas caricias sob o cobertor de flanela vermelho,

estou desalojado de calor humano, o ritmo agitado de minhas mãos

não descobrem apenas este resto de gemidos e um cheiro de animal

apodrecido, próximo como a febre, o delírio, a agitação, a mão sempre se descobrindo diante do nada…

preciso do arcabouço da solidão, desconhecer regras, leis, estatutos,

entender o pêso deste silencio, como um gesto ultimo de um suicida

abafando um ultimo suspiro e grito de uma entortada esperança., esticando para dentro de minha garganta, cruzam o limite de meus

pulmões lacerados de um travesso destino, um ar cansado e pesado, esta luz que brilha sobre as trevas e fica apagado diante de meus olhos, flores e negros vegetais, orquídeas roxas e vagas ficam numa eterna vigia acompanhando esta viagem de deserção , desapego e isolamento temperado pela falta de esperança.

A fé é uma doença da alma…..

Vou fugindo, invadindo espaços fechados, meu sangue voltado para uma sonolência das veias a serem percorridas por navios fantasmas e percebo que minhas salgadas lagrimas tem o encantamento do desconhecido, acariciam meu rosto e um resto de humano joga-se para dentro do tempo…

São os nervos que perdem seu domínio, músculos retesados e desatinados, inflamados, a boca seca e a voz escondida diante de um mundo que se refaz pelo perdido das palavras, pelo perdido dos sentidos e do amargo desencontrado pela ironia de um mundo lavrado em dispensas vazias…vou buscando o reverso das sintonias desta rejeitada esperança e a alma que se divide na coluna quebrada de meu corpo!

 

É dificil perecer  quando sentimos  que as sombras Deus- NInguem e Jogos Esparços da Solidão

viram vidas, tomam formas humanas e em suas linguagens desarticulam, a continuidade da existencia,  fico a olhar a janela e penso na única forma de continuar neutro dentro deste jogo de vida e morte.

E sentir que do lado de fora da janela tudo pode ser normal, pessoas que amam, crianças que comem e namorados que se desejam, eu escrevo as cartas com letras amassadas de angustia e miséria sem esperar sem esperar a respoata do Deus – Ninguém, pois ele entende que meu abismo ficou abertopara a tristeza e para este inferno particular em que vou carregando o peso desta falida existência.

E dentro deste inferno, minhas emoções fugiam para dentro de meus nervos, não tinha o direito de fazer palavras, era uma escuridão, sem vonade de sonhar.

 

Um jardim desfigurado de uma memória escondida dentro de meus pulmões, a dificuldade de respirar, afundar-me no abismo do sonho que escapava na dissolução negra de meus dias, cavalgava o cavalo numa planície e buscava a rocha das montanhas, como quem busca a inércia de viver viver dentro de meu tempo sufocado de vomitos, sangue na pia e meu rosto aspero de desastre!

Fico preso no segundo pavilhão, a escada não tem corrimão, e uma tontura sempre me invade, uma fraqueza no corpo anoitece dentro de minha caminhada, a ventania é constante, parece trazer da terra que cobre os túmulos um olheiro de dor que nem a morte foi capaz de apagar, existe a sombra de um abismo que foi apenas se revelando com o passar do tempo, a mentira que guardamos desde o momento que descobrimos que a infãncia ficou abandonada dentro tempo.

Nenhum inferno poderia ser diferente  daquele que  costurava minha sina no mundo, ali despejado de alegria, o sangue e o mangue se misturando na paisagem que ousava desafiar, meus olhos e um peso metálico esticado para dentro da minha boca, a raiz da noite se escondia, tudo sempre igual, uma fronteira de barro, lama era o roteiro de meu destino.

 

“Deus Ninguém” de quem é este grito que fica enterrado na minha garganta, esta sombra que diante de meus olhos e tem o veneno doentio da existência, aproximome novamente da janela, o vidro quebrado tem o tamanho morto de meus olhos, preciso respirar vida, olho para meu corpo, magro dedos do pé machucado pelo hinelo, meu pijama amarrado com um cordão branco respingo de sangue na gola e nos botões  da blusa umcheiro azedo d urina e semem, a noite é sempre um espaço para uma masturbação com uma inexistente mulher que vejo no espelho interior de meus olhos.

Não tenho como fugir, nem nem escapar do mundo que me foi enjeitado, sei que preciso estar em algum lugar   vivo de um passado que desconheço, não me resta nenhuma forma de encontro com meu destino, existem túmulos  abertos e almas viajantes, outras  pessoas em cadeiras de rodas se locomovem como lagartichas nas paredes do hospital.

Fico com os olhos vedados de sombras, tudo um grande deserto, escorpiões furam co seu veneno a dureza cristalina de meus pensamentos desesperados de resposta.

_Ninguém vai responder nada, pois habitamos a mesma voz, gritamos a msma agonia, entemos fugir mas as correntes cercam nossos universo, algo me ….

Sinto que um nada pertuba minha necessidade de escrever,  cruzo a dor de um sentimento que precisa não existir mais, quero expor a impossibilidade do amor, pensar que a vida sempre encontra me em vielas escuras, pedras brutas dando forma ao chão da minha exaustão.

Um céu rachado dentro de mim, anuncia que minha prisão não tem o sopro da sobrevivência, vivo entre gritos e gemidos, os corvos negros em sua lentidão de asas negras viajam sobre o cheiro dos corpos enterrados entre abismo, e árvores sem frutos, apenas folhas em seu tempo de queda, incapaz de sobreviver a ventania constante no vale, o vento vem carregado uma  antiga esperança e sussurra em meus  ouvidos  a voz de mu antepassado que abandonaram-me  neste hospital.

Já não consigo ver-me com os olhos de antigamente, um medo, o pensamento escapando em tristeza,  quero reler meu destino  de outra maneira, sentir que a felicidade poderia até morar dentro de meu destino,  se alojar no fundo do abismo ou de um mar nas escondidas e endurecidas faces  de ostra  ou num caramujo grudado no taquaral, a dureza de uma casca que cobre minha pele, viver sem resposta de um Deus desconhecido e presente nas minhas invadidas orações sem fé sem carinho, abandono a verdade e me volto para o percorrer das horas que escondo nas caixas de meus pulmões, os olhos tampando  a vida vou buscando nas  entranhas do corpo o mistério da vida que ficou estragado, a alma tm um cheiro de um jasmim morto entre folhas secas.    Dentro da vida sonho, palavras se escurecem, nela viajo, como uma estrela apagada buscando refugio, os ser se desfalca  de entendimento, não tenho o ser que foge de mim, as folhas trancadas da imaginação, as palavras sem destino , esvaziada de vontade, pensamentos tortuosos e meus pensamentos pulam no intervalo da existencia . O silencio cresce na medida que minha dor aumenta, a indefinição do existir na morada do corpo, leio esperanças no vitral de uma fé esquecida, abraçar o sonho das mentiras , tecendo linhas tortuosas, meu nome será apenas a confusão de uma dor não compreendida, vento forte cruzando a janela quebrada, empurrando sementes negras, flores sem ossos , massageando  a pele de calafrios, asvezes penso que não sou arejado pela vontade da escrita para o Deus-Ninguem, palavras passam por mim, não sinto necessidade de aprisionar é como um bater de asas, movimentos repetidos marcando sempre o mesmo momento de uma grande perda, na noite envelhecida, as rugas escrevo e permanecem nas rugas do espelho, cruzando um mapa de viagens não permitidas , escondidas em conchas desgarradas no fundo do mar, de que vale meus olhos invadidos  de sombras e trevas, sem fuga , preso na agonia de meu sangue, a alma estrangulada em palavras, desabitadas, a lama negra grudada nas virgulas e exclamações de um tempo que deixo escapar nos meus gritos e as densas nuvens que percorrem as estradas de meu corpo, minhas artérias, o ar desamparado em meus pulmões, é nestas aguas revoltas que navego e pressinto o rumor pesado das ondas violando as rochas, feito pedra me descubro, me afundo e descubro o s corpos decompostos dos peixes e as algas grudadas, emparedadas no triste da fundura, o pesadelo molhado, salgado que lava a morte, a parada  respiratória é registrada no meu mapa, neste hemisfério quadrangular do pavilhão, onde os mortos ainda respiram invisivel ar, o inicio amargo de seu fim, ar que vão surgindo das pedras e tijolos de um estranho jardim, escorpioes , aranhas vão arranhando , tentando picar o corpo extinto e livre das mentiras em busca da eterno mapa de viver uma outra existencia ! Estou tentando em formas as palavras e dizer em vidros cortantes nas janelas que nunca se abrem para o sol que me consome em escuridão é quando devidamente escurecidas contra a possivel escuridão chegar até meu corpo e minha cama e de virus flutuando neste meu mundo de espaço tão reduzido em que habito  com meus tremores e angustias, virando o mundo que revejo em pedaços de noite que nunca acham o dia, desço o corredor para penetrar um jardim, sem resposta, quase abandonado, um mato  amarelado e queimado do sol, que não existe em mim, mato tomando conta de tudo, ervas daninhas que dançam num vento invisivel, escondendo carcaças de pequenos insetos e arvores projetam sombras nos bancos quebrados e desbotados, cores desaparecidas, a vida dorme em seu cansaço de existir, todo fim de noite descubro tragédias, os doentes retiram suas mascaras e fogem para o desconhecido existir e nas margens da solidão começam a afogar sua solidão, sua negritude e enterram suas memórias na laje de um cimento bruto, Brejo das Almas , sabe que vivem seu limite na estremura  e que pouco resta, limite esgotado e a loucura viciada em assumir pedaços de mistérios, esticar os nervos adormecidos, gritar, rir e se desgraçar mum mundo miseravel, as veias do mistério compondo mortes, ou da vida e minha c  caminhada  é de um sonambulo pelo corredor de um hospital destruido pelo tempo, embalados em papéis vázios e minhas lágrimas tinha um peso que meu rosto não suportavam em viéz de tristeza, ao meu lado o velho Jacinto, me sentia a necessidade de perguntar se a morte modificaria alguma coisa, o misterio que a morte trazia para dentro de seu tempo esvaziado de vida, seus olhos de patentear sonhos antigos e memorias entranhadas no corpo que conversava com o infinito !

_ Jacinto , o que é a morte ? Seu corpo vinha desmontado de entendimento, a cegueira das perguntas vivendo sem resposta e uma dor que suportava pelo peso de existir de um desconhecido existir pelo nada !

Engulo fatias de agonias, penso no sabor azedo de minha existencia, a estranheza de um sangue misturado com memórias e lembranças, habitando o espaço  morto de meu corpo, o gosto acre que regurgito de sangue e cuspo num urinol de ceramica todo amassado, e me vejo em alucinação, voando no desconhecido do tempo, cores inventadas, delirio de meu corpo trabalhando esta breve solidão grudada no fundo escondido da minha alma, então me ponho a viajar com asas partidas para o infinito e sei que perdi o momento de ser um passaro e de ver minha existencia num ceu sem esperança e tudo é escuridão dançando na imobilidade de meu angustiado corpo desviado de rotas e me desconheço, sinto um peso nos olhos, um torpor de esquecimento, adormeço poucos minutos, fujo das horas, abro os olhos, um lençol branco branco cobre o velho Jacinto, deixou a vida escapar, seus olhos abertos e opacos ganhariam  o espaço em que nenhuma tristeza ou lembrança poderiam novamente renascer, ao seu lado um lirio branco, a luz se apagara,o sino da capela, badalava dentro da capela, ganhava os ares num ritmo de tristeza e dor, a morte que anunciava sua partida, ali se sentia um grande silencio, alguns doentes vinham e levantavam o  lençol, espectros doentios como do morto, faziam o sinal da cruz e se retiravam como se fossem a proxima vitima, afogados dentro de um medo desconhecido, carregando as pedras do infortunio , resvalando em dores desconhecidas ,escuto o ruído da noite que pulsa como um galopar de sombras, toda minha certeza se esvaziava em saber que os últimos lances seriam dados naquele exato momento, era a partida, o final do jogo, estrelas fixadas em suas interrogações, sofria no dentro, escondia tristezas, a estória pedia o exilio de frases que ficariam para sempre guardadas, para nunca ser pronunciadas, a timidez nublando meus sentimentos, nunca seria compreendido, as esferas negras ficariam rolando entre cacos e pedras, tentava o caminho da redenção, torturar a solidão presente a cada instante, como seria importante me desapegar do tempo, sair fora do sistema que me amarra, não conhecer nada ou ficar cego onde a alegria se põe, perder a luminosidade, desfazer me num rio como um anjo maldito e barroco , nunca ser encontrado, pois sou feito de fantasias e dissoluções e num barro triste , sem moldes, inventando retratos em que a dormência  repousa como uma alma morta, atraz de meu olhar  um espelho esconde  o  deslumbrado  das trilhas para dentro de meu passado…onde o amor vira um farrapo, trapo para cobrir os pedaços soltos de meu silencio, preciso de todas as formas de desencontro, a chave que se perderá para sempre no negrume desta noite que carrego em mochilas no sempre, preciso sair, respirar….me alimentar com o que a palavra nunca me diz e que ficam pousadas como abutres em seus monturos , no desespero as palavras, iam sendo retiradas como pedaços de minhas vísceras, algas solitárias, o chão se abria com bocas dentadas , engolia, trituravam meus ossos na grande dimensão da agonia, náusea de tudo aquilo que meu corpo desconhecia, tudo que tinha perdido, os dias que fugiram de minha infância, a boca se retorcendo, desfolhando as pétalas de meus sonhos, como uma cobra engolindo tudo, me fazendo vitima, réu de um mundo que não precisava de reflexão, eu sendo a pasta melosa, em que todo ser humano um dia se tornaria, é quando a separação  vem como uma ventania e joga suas folhas como mortalha para o dentro do pastoso, no momento que os olhos se fecham, adormeço, lembrando que estava sem saída, um túnel fechado dentro da minha língua, engolido de sombras, a devassidão enrolada como arame farpado dentro e fora de meu corpo, minha pele como num ritual se esticando como um tapete descolorido , pelo calor do sol, talvez lugar que sempre esteja, a dor do tempo terá meus passos marcando o infinito, sem carinho, olhando a escuridão devorada, solidão sem culpa, um amor esparramado de sofrimento em olhar vazios e tristes, sou o que deixei de ser….sou o que deixei de ser…portando deliro, jogado em frases que não podem ser emendadas, olhar  de sonambulo, um vazio de existir, talvez seja a doença de não acreditar em que algo possa mudar meu destino !

Esparsos I

Não deixo de acreditar que o final poderia ser o momento de descoberta, a vida vai deixar sua roupagem mal lavada de tristezas, revestindo com cores apagadas o caos, pano velho guardando letras apagadas e esquecidas de lembranças, uma vida se guardando em desespero de uma dor que não foge de meu peito preso e cansado, agua pura que vai secando dentro de um silencio de voz que não chega onde estou, beira morte ou vida…

08/02/2017

” Deus-Ninguém “

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