O Escritor e a Palavra

26/05/2009

POMAR DE SONHOS

Filed under: Uncategorized — oescritoreapalavra @ 11:15

não sei o por que diferente

das côres dos frutos

a terra é o sempre igual

pra tudo,

umas frutas mais doces

outras maiz azedas

na mesma terra

sempre igual,

                              penso que as frutas

é como gente

o gosto para rir ou chorar

o amargo e o doce é questão de cultivar

os anseios da alma ou do amor,

as folhas verdes verdinhas

arrebatadas   pelas ventanias do cerrado

entoam sons de violinhas,

os frutinhos se embalam

cada um em seu destino,

o doce vai se fazendo

azedo azedando de traçar caretas

pra Deus rir lá do céu,

cada fruta vai se vestindo de cheiro

se enfeitando de cores,

a terra  grudada nas raizes

vai catando mais sementes

pra encher sempre

o pomar dos sonhos.

Carlos Bueno Guedes

 

O GRITO

Filed under: Uncategorized — oescritoreapalavra @ 08:57

http://setimoprojetor.blogspot.com/search?q=o+gritoil_grido

 

 

 

 

O GRITO – Uma revisão O GRITO – Uma revisão Foi em 1967 que vi O Grito (1957), de Antonioni. Revi-o há mais de mês, em DVD, quase quarenta anos depois. A afirmação de uma grande obra, uma das 4 ou 5 principais do cineasta italiano, permanece por esse longo transcurso de tempo, e, talvez, ela tenha se engrandecido ainda mais com o passar dos anos. De início, o que chama a atenção de O Grito é o fato de ser um homem do povo (um operário de uma fábrica) que passa por uma crise existencial, motivada pelo fim de um caso de amor, que o deixa entediado, abúlico, um vencido, por mais que tente buscar, com outra mulher, a libertação do seu sofrimento. Ele deixa a cidadezinha e o emprego, levando a filha pequena que tivera com a amante, e percorre parte da Itália, parando em lugares onde pouco se demora. Essa perambulação de pai e filha me fez lembrar a do pai e do filho em Ladrões de Bicicleta (1948), ambos os homens operários, só que são diferentes os motivos da busca de objetivo dos dois e a perambulação dos personagens de De Sica se circunscreve aos limites de Roma. Mas lá pela segunda metade do filme a garota retorna para a mãe, e o pai continua na busca desesperada de se fixar num lugar e num trabalho, em companhia de outra mulher. O drama desse Aldo (interpretado pelo americano Steve Cochran, no melhor papel de sua carreira) transcorre durante a estação chuvosa e a presença de uma névoa quase constante (e captada com brilhantismo pela fotografia de Gianni di Venanzo) sublinha-o com perfeição. E como acontece nos filmes de Antonioni, é uma situação que o personagem não consegue superar, a não ser, no caso de O Grito, pelo sacrifício da própria vida. Em grande parte porque as mulheres que Aldo encontra não lhe podem dar o que ele busca, por serem pessoas que vivem outros dramas existenciais. É assim Elvia (Betsy Blair), é assim a proprietária do posto de gasolina, Virginia (Dorian Gray), que, além de vítima da solidão, ainda tem que conviver com o pai senil e alcoólatra. Assim é a prostituta (Lynn Shaw). O breve convívio com elas não lhe traz nenhum alívio (a não ser temporário), e só faz torná-lo cada vez mais dependente de Irma (Alida Valli, vivendo uma mulher do povo, desglamourizada, sem a fascinante beleza de outros filmes). Na sequência final, quando Aldo, finalmente, resolve voltar para a cidadezinha, estabelece-se um contraste entre a situação vivida por ele, agravada pela descoberta de que Irma teve um filho com o homem pelo qual ela o abandonou, e a dos habitantes do lugarejo, que se unem para lutar contra a tentativa de instalação de uma pista de aviões. Aí o drama individual se choca com o problema coletivo e o filme revela uma faceta social. É talvez principalmente por esse detalhe que um ou outro crítico encontre vestígios do Neo-Realismo em O Grito. Já por outro lado, ao expor elementos que seriam aprofundados em A Aventura, A Noite e O Eclipse, há quem sugire que, com O Grito, Antonioni teria realizado, ao invés de uma trilogia, uma tetralogia sobre a crise existencial, localizada em diferentes classes sociais. Foi em 1967 que vi O Grito (1957), de Antonioni. Revi-o há mais de mês, em DVD, quase quarenta anos depois. A afirmação de uma grande obra, uma das 4 ou 5 principais do cineasta italiano, permanece por esse longo transcurso de tempo, e, talvez, ela tenha se engrandecido ainda mais com o passar dos anos. De início, o que chama a atenção de O Grito é o fato de ser um homem do povo (um operário de uma fábrica) que passa por uma crise existencial, motivada pelo fim de um caso de amor, que o deixa entediado, abúlico, um vencido, por mais que tente buscar, com outra mulher, a libertação do seu sofrimento. Ele deixa a cidadezinha e o emprego, levando a filha pequena que tivera com a amante, e percorre parte da Itália, parando em lugares onde pouco se demora. Essa perambulação de pai e filha me fez lembrar a do pai e do filho em Ladrões de Bicicleta (1948), ambos os homens operários, só que são diferentes os motivos da busca de objetivo dos dois e a perambulação dos personagens de De Sica se circunscreve aos limites de Roma. Mas lá pela segunda metade do filme a garota retorna para a mãe, e o pai continua na busca desesperada de se fixar num lugar e num trabalho, em companhia de outra mulher. O drama desse Aldo (interpretado pelo americano Steve Cochran, no melhor papel de sua carreira) transcorre durante a estação chuvosa e a presença de uma névoa quase constante (e captada com brilhantismo pela fotografia de Gianni di Venanzo) sublinha-o com perfeição. E como acontece nos filmes de Antonioni, é uma situação que o personagem não consegue superar, a não ser, no caso de O Grito, pelo sacrifício da própria vida. Em grande parte porque as mulheres que Aldo encontra não lhe podem dar o que ele busca, por serem pessoas que vivem outros dramas existenciais. É assim Elvia (Betsy Blair), é assim a proprietária do posto de gasolina, Virginia (Dorian Gray), que, além de vítima da solidão, ainda tem que conviver com o pai senil e alcoólatra. Assim é a prostituta (Lynn Shaw). O breve convívio com elas não lhe traz nenhum alívio (a não ser temporário), e só faz torná-lo cada vez mais dependente de Irma (Alida Valli, vivendo uma mulher do povo, desglamourizada, sem a fascinante beleza de outros filmes). Na sequência final, quando Aldo, finalmente, resolve voltar para a cidadezinha, estabelece-se um contraste entre a situação vivida por ele, agravada pela descoberta de que Irma teve um filho com o homem pelo qual ela o abandonou, e a dos habitantes do lugarejo, que se unem para lutar contra a tentativa de instalação de uma pista de aviões. Aí o drama individual se choca com o problema coletivo e o filme revela uma faceta social. É talvez principalmente por esse detalhe que um ou outro crítico encontre vestígios do Neo-Realismo em O Grito. Já por outro lado, ao expor elementos que seriam aprofundados em A Aventura, A Noite e O Eclipse, há quem sugire que, com O Grito, Antonioni teria realizado, ao invés de uma trilogia, uma tetralogia sobre a crise existencial, localizada em diferentes classes sociais.